Tertúlias sobre o Fundador e a forma portuguesa de o tratar.- Marypt
Fecha Monday, 24 July 2006
Tema 070. Costumbres y Praxis


  

Na sequência do texto de Oráculo – “O mito de San Josemaría” – lembrei-me daquelas tertúlias (de convívios ou cursos anuais) que eram intencionalmente dedicadas a contar histórias “edificantes” da vida de “nuestro Padre”.

Eu sou do tempo anterior à beatificação pelo que, apesar de tudo, havia o cuidado de avisar que não devíamos repetir aqueles factos a não ser dentro da obra ou a cooperadoras muito “encaixadas”.

Como se recordarão todos ou quase todos, esses relatos pretendiam ser mostrar até que ponto o “nosso Padre” vivera heroicamente as virtudes, mas na verdade eram uma mistura de relatos reais ou pseudo-reais da vida do Fundador, juntamente com acontecimentos “místicos” que levantavam sérias dúvidas às mais cépticas e deixavam “de boca aberta” as mais crédulas.

Tenho dificuldade em reconstituir exemplos deste último tipo (eventos “místicos”), mas ainda me recordo bem de exemplos do primeiro tipo, os tais acontecimentos da vida diária do Fundador nos quais nos devíamos inspirar para viver o “espírito do O.D.”

Com quase todos saberão, abundavam as histórias acerca da “forma de viver as coisas pequenas”:

 

-         Num dia em que chegaram a Villa Tevere e deixaram o automóvel na garagem, o numerário encarregue de fechar as portadas deixou aberto um dos fechos de correr. Então o “nosso Padre” gritou com ele dizendo: “Assim, matam-me o Opus Dei! Se não me cuidam as coisas pequenas quando eu morrer, matam-me o Opus Dei!”

 

-         Numa história mais antiga, as numerárias e numerárias auxiliares (creio que na primeira residência masculina de Santiago de Compostela) tiveram a visita do Padre que lhes perguntou: “Cumpris-me as normas?” Ao que elas responderam que sim, mas que – tendo tanto trabalho que as horas do dia não lhes chegavam para fazer todas as tarefas da administração – por vezes, tinham de aproveitar e fazer algumas normas enquanto descascavam batatas ou faziam outra tarefa trivial… O nosso Padre, mais uma vez, começou a gritar com elas porque “lhe estavam a matar o Opus Dei!”

 

-         Contava-se ainda que por vezes, na casa de Roma, o Fundador chegava a dobrar a ponta de um tapete para verificar se algum dos seus “filhos e filhas” se dava conta e aproveitava para endireitar o tapete e assim “viver as coisas pequenas”

 

Enfim, sei que são dezenas ou centenas as “historietas” deste género em que, muito mais do que qualquer preocupação pastoral, se reflecte o carácter obsessivo e até patológico de José Maria Escriba. Os relatos das numerárias auxiliares que alguma vez contactaram com o Fundador estão cheios de episódios nos quais ele perdia a cabeça por tudo e por nada a propósito das refeições, da ordem dos objectos, da limpeza dos centros, etc, etc. Por vezes o “Padre” tinha verdadeiros ataques de cólera, humilhando até ao extremo aqueles que o rodeavam. Para essas pessoas que o “idolatravam” e que lhe queriam agradar em tudo, as “cenas” que o Fundador protagonizava eram causa de enorme sofrimento! Claro que o caso extremo – que não deve porém ser único – é o do “sequestro” de que foi vítima Maria del Cármen Tapia!

 

Penso que valia a pena que mais participantes de Opuslibros escrevessem as histórias de que se recordam para que, de alguma forma, não se percam e possam contrapor-se à forma como as biografias “oficiais” de José Maria Escriba as apresentam.

 

Em anexo a estes tópicos gostaria de falar sobre um outro aspecto que desde há muito pensava abordar aqui na web:

-         O facto de o Fundador ter desejado que lhe chamassem “Padre” tem naturalmente um significado muito importante na língua castelhana, na medida em que ocorre uma identificação com a forma como se trata o pai natural e também o Pai do Céu;

-         Contudo, na língua portuguesa (certamente por ser tão próxima do castelhano) sempre se usou igualmente a designação de “Padre”para o Fundador do O.D. (e depois para os seus sucessores) mas esta designação não se confunde com a palavra portuguesa para chamar o nosso pai de sangue e o nosso Pai do Céu;

-         Em português “padre” quer dizer o mesmo que “cura” em castelhano, ou seja, um sacerdote que não tem mais nenhum título… Por isso, sempre achei que tratar o Presidente (ou Prelado) da obra por “Padre” tinha todo o sentido estava em causa uma pessoa que tinha sido ordenada e não havia confusão possível com o meu pai verdadeiro!

-         A confusão de significados que sucede em castelhano, verifica-se igualmente noutras línguas (em inglês, por exemplo, com o termo “Father”).

Enfim, queria transmitir-vos estas considerações, das quais retiro as seguintes conclusões:

(i)                 Por um lado, foi positivo que durante anos e anos eu não tivesse tratado o Fundador da obra e o Prelado com a mesma palavra que uso para tratar o meu pai natural e para rezar a Deus Pai;

(ii)                Mas, por outro lado, se na minha língua existisse essa confusão, teria tido mais uma ajuda prática para mais cedo detectar o carácter totalizante da instituição.

 

Marypt 









Este artículo proviene de Opuslibros
http://www.opuslibros.org/nuevaweb

La dirección de esta noticia es:
http://www.opuslibros.org/nuevaweb/modules.php?name=News&file=article&sid=8134