UM DIA O TELEFONE TOCOU.- Fatima
Fecha Monday, 12 June 2006
Tema 070. Costumbres y Praxis


UM DIA O TELEFONE TOCOU

Um dia, era já tarde, o telefone tocou: era a Zizita.
A Zizita é uma numerária e falava-me, na altura, de Lisboa:
-Está, Fátima? Sou eu, a Zizita. Estás boa?
-Estou- respondi com ar de espanto (tinha-me desligado da Obra havia talvez seis meses).
- A Maria da Purificação morreu... ( e ouço um choro em convulsão do outro lado da linha).
Tentei acalmá-la. Continuou a chorar sem conseguir controlar-se. Indicou-me que o funeral seria no dia seguinte, numa igreja perto do lugar onde então eu vivia.
Na tarde seguinte dirigi-me para o velório da Maria da Purificação.
Lá estava o corpo, rezei. Vi quem estava presente: algumas supranumerárias e poucas numerárias, para além de outras pessoas. A missa de corpo presente foi celebrada por um sacerdote da Obra, o Dr. Matoso.
No final, a directora de S. Gabriel, a Carina, disse-me:
-Olá princesa! Já há muito que não te via... A brincar, a brincar...
- ...( não lhe respondi)

A Maria da Purificação morreu...


Conheci-a num dos centros do Opus Dei.
A Maria da Purificação frequentava os meios de formação, pelo menos, havia uns dez anos. Tinha um plano de vida: confessava-se , missa diária, oração, círculo...

E conheci outras: uma que frequentava, talvez, há sete anos, outra há nove...

Não, não eram membros. Então o que eram? Eram cooperadoras.
Pois. São cooperadores ( independentemente do credo, ou não credo) aqueles que ajudam nas tarefas apostólicas da Obra através da oração, de dinheiro ou do trabalho desenvolvido.
Estas pessoas rezavam e ... vai-me custar dizer, mas é a verdade... e pagavam.
Uma espécie de membros “Y” ( como no “Admirável Mundo Novo”, do Aldous Huxley), de intocáveis, que não serviam para nada.
No entanto, mantinham-se fiéis aos seus compromissos.

Uma vez, no início da minha aproximação à Obra, falei com duas delas - falamos todas dos nossos desejos ( todas acalentávamos a esperança de vir a ser membros do Opus Dei).
Porquê? É que, qualquer uma de nós sentiu o “arrepiante” apelo de se dar a Deus, mantendo-se no meio do mundo (o que não torna a proposta da Obra, em nada, original - só mais tarde soube disso).

E não era legítimo esse anseio, atendendo a que nada nos foi comunicado que tornasse inviável a Admissão? Legitimíssimo.

Uma directora conversou comigo dizendo-me que eu não tinha nada que ter falado da “minha vocação” às demais pessoas: elas não estavam no mesmo patamar que eu (Fantástico!). E não percebi. O que percebi, sim, foi que usaram um argumento que visava afagar-me o ego.
E lá seguia eu, toda contente, com as normas, a conversa, etc. , pensando que faria (reparem só na originalidade) a vontade de Deus.
Mas o meu caso não acabou em Admissão...


Mês de Maio, mês de romarias. Lá fiz algumas e a primeira foi ao Carmelo do Porto. Disseram-me que TODAS AS MONJAS CARMELITAS SÃO COOPERADORAS.
Desculpem. É que não percebo nada de Direito Canónico, mas causa-me estranheza que todos os membros de uma ordem possam ser nomeados cooperadores.
Uma vez, falei com uma delas sobre isto, que me adiantou:
- Então...não havíamos de rezar por toda a gente?...
E sorriu.
Não me pareceu nada esclarecedor.

Depois há aqueles que contribuem muito, muito, muito – não apenas em géneros...

E há os ex-membros também, claro... cooperadores.

Então, quem são os cooperadores do Opus Dei?
Poderão ser os que estão numa espécie de ante-câmara de entrada para a instituição, os indiferenciados, os "Y's", as monjas Carmelitas, os ex-membros... ou seja: são tudo o que não cabe nas quatro categorias de membros: numerários, agregados, supranumerários e numerárias auxiliares. Ou seja, NADA.

Suspeito que alguns dos responsáveis da Obra têm consciência do sofrimento que provocam ao alimentar nas pessoas que se aproximam do Opus Dei , expectativas de realização espiritual - e até pessoal - que só poderão vir a ser frustradas.

Sempre me perguntei que significava o choro convulsivo da Zizita – arrependimento? Não sei .

E outro dia, na Igreja da Lapa, vi passar outra “Y”: a Alberta.

Fátima Filipe

Nota: todos os nomes utilizados - excepto o meu próprio - são fictícios






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