Novamente sobre Supranumerários (concluindo).- Marypt)
Fecha Wednesday, 23 November 2005
Tema 078. Supernumerarios_as


D) Ainda sobre as relações íntimas dos casais

1. Pelo que fica exposto torna-se evidente que as atitudes dos supranumerários/as diantes das "indicações" em matéria sexual dos directores/as são muito variáveis:

a) Tratando-se de um casal em que ambos são da "obra" é muito difícil "escapar" a essas intromissões e imposição de princípios por parte do "opus dei". Na verdade, ocorre aquilo que já em tempos assinalei como uma "viligância dentro do casal": cada um funciona como eventual "delator" do outro nestas matérias como noutras. Provavelmente a maior parte dos supranumerários/as não saberá que ao fazer a sua conversa fraterna está a dar à obra dados sobre a sua própria conduta sexual e sobre a conduta do seu cônjuge, informações que – como sabemos – podem "circular" de uma secção para a outra...  



Enfim, estamos perante uma situação da qual dificilmente um membro da obra pode "escapar" porque está preso numa teia que mistura o seu casamento com a sua pertença à obra (e frequentemente, também o seu trabalho profissional). Não menosprezemos as situações de grande sofrimento que tanta falta de liberdade e de autonomia podem causar!!!

b) Se só um dos membros do casal é da "obra" tem uma "margem de actuação" bastante mais ampla. Pela minha experiência pessoal sei que o melhor nestas matérias tão delicadas é estabelecer uma "barreira protectora" da intimidade do casal que os directores não possam passar. Claro que não se pode fazer isso em tensão aberta mas apenas com alguma habilidade, como por exemplo: dar respostas vagas às perguntas "impertinentes"; afirmar que quando se tem alguma dúvida se consulta o sacerdote; dar a entender que o marido ou mulher nem sempre concorda com as orientações tipo "opus", etc. Mas é evidente que se se apanhar um director ou directora do género "intransigente", terá forçosamente de haver um "enfrentamento" directo. Estes casos que ocorrem quase sempre com as supranumerárias que "ousam" enfrentar os critérios da "obra" quanto aos nascimentos em cadeia... terminam invariavelmente com a não renovação da pertença à instituição no dia 19 de Março!

2. Entretanto estas orientações retrógadas da obra vão causando os seus estragos na relação de alguns casais. Não posso afirmar que sejam a causa da separação e divórcio desses casais, mas – quando as coisas já não correm bem por outros motivos – então uma "posição rígida da mulher/supranumerária" em matéria de relações sexuais será a "gota de água" que fará transbordar o copo:

a) Acompanhei de perto dois casos de supranumerárias do meu grupo que começaram a suspeitar da fidelidade dos respectivos maridos; quando os actos de infidelidade se comprovaram, estes "atiraram-lhes à cara" com o facto de ser impossível viver com as imposições morais que elas tinham dentro da cabeça. E de tal forma as coisas se passaram que os familiares dos maridos invocavam o mesmo argumento para justificar que elas não "eram mulheres normais"!

Estas situações confirmam plenamente o entendimento que muitas pessoas casadas que contactam com a obra têm: não faz qualquer sentido que os meios de formação separem marido e mulher, noivo e noiva. Claro que é possível e provável que marido e mulher não tenham a mesma posição perante a religião e a fé cristã; mas o que a obra não deveria fazer era aumentar a diferença entre eles, pelo contrário, tudo deveria fazer para que ambos participassem em conjunto dos meios de formação, orientando a sua mensagem de acordo com o estado matrimonial que – sendo um estado sacramental – tem um valor muito superior ao da simples pertença ao "opus dei"!

b) Naturalmente que as orientações errróneas tendem a aumentar pelo facto de os responsáveis da secção masculina não terem qualquer experiência pessoal do trabalho e desgaste que as lides caseiras originam. Aquela "inspiração" do Fundador em criar as administrações dos centros – a pensar sobretudo na secção masculina - limita muitíssimo a capacidade de os directores orientarem devidamente os membros supranumerários e os cooperadores em relação à necessidade de compartilharem as tarefas caseiras como é próprio do mundo actual. Que eu saiba, no meu país já não se ministram aquelas instruções machistas de que nos falava Brisas em alguns dos seus escritos. Mas estou certa que isso sucedeu nas primeiras gerações de famílias de supranumerários e supranumerárias (entre os anos 50 e 70 do século passado). E alguns vestígios de tal postura machista ainda existem; basta dar o exemplo dos membros da secção masculina que – ao falarem em público – defendem que o lugar da mulher é antes de mais "em casa"...

3. Há mais uma grave consequência indirecta da promoção indiscriminada de famílias com um enorme número de filhos da qual a obra se alheia completamente: a tragédia que deriva das situações em que o pai ou a mãe de todas essas crianças morre enquanto elas não estão ainda criadas. Claro que quando temos filhos esta hipótese não pode ser um factor condicionante. Mas quando o número de filhos atinge os seis, oito, dez, doze, catorze, etc, - e o seu nascimento é "em cadeia" - esse factor deveria ser tido em conta. Os pais deveriam pensar: se um de nós (ou até ambos) morrermos de repente, o que será feito dos nossos filhos?! Acompanhei pessoalmente três casais de supranumerários a quem sucedeu uma tragédia deste tipo, à qual se seguiram muitas outras tragédias com a "reconstituição" da família e educação de tantos filhos:

- Num caso que me afectou muito em criança, faleceu num acidente de automóvel a mãe de um colega de escola; tínhamos ambos sete anos de idade e ele tinha já mais cinco irmãos mais novos! De imediato surgiram ajudas de umas tias e, mais tarde, o pai voltou a casar (com uma supranumerária, naturalmente). Mas ninguém pôde evitar os traumas que todas aquelas crianças sofreram por terem ficado sem mãe em idade tão tenra e de claramente o pai não ser capaz de sozinho desempenhar o papel de pai e de mãe;

- Num outro casal de supranumerários tinham nascido sete filhos em oito anos; a interrupção de um ano devia-se apenas a que uma das gravidezes não fora bem sucedida, tendo a mãe estado à beira da morte. Quando tudo parecia superado, o pai (provavelmnete afectado com tantas angústias causadas pelos dramáticos partos da mulher) teve um ataque cardíaco fulminante e faleceu. A mulher ficou só com sete filhos em que o mais velho tinha oito anos de idade, sem apoio económico suficiente, com necessidade de trabalhar e com dois dos filhos com problemas psíco-motores devido a dificuldades nos respectivos nascimentos. Enfim, as supranumerárias da cidade juntámo-nos para a ajudar ao menos economicamente. Não me consta que a obra enquanto tal lhe tenha dado um único cêntimo!

- A terceira situação consegue ser ainda mais grave do que a anterior: o casal tinha doze filhos, todos seguidos, quando a mãe surgiu com um cancro e morreu em poucos meses. O marido tentou "aguentar o barco", mas nem sequer conseguia ajudas de empregadas domésticas para uma casa com tantas crianças, as mais velhas das quais perturbadíssimas com a morte da mãe e em plena "crise adolescente". Seguiram-se problemas de todos os tipos: insucesso escolar; consumo de alcool; consumo de droga; comportamentos violentos, etc. Ao fim de alguns anos apareceu uma "fada madrinha" disposta a casar-se com uma homem com doze filhos, mas naturalmente que já era tarde demais para que a generalidade dos filhos a aceitassem como "mãe substituta"....

4. Procurando terminar: neste domínio da moral conjugal, como em todos os demais que respeitam à vivência da sexualidade, a obra tem sempre as posições mais retrógadas, não respeitando sequer a doutrina da Igreja sobre os diversos temas! E aplica de forma cega aquilo que se designa como uma "ética de princípios ou convicções" sem tolerar qualquer desvio em função dos casos concretos; ou seja, sem adaptar esses princípios às vidas por vezes dramáticas que as circunstâncias podem criar, ou, bem pior, sem adaptar tais princípios àquelas vidas dramáticas que nasceram do próprio fanatismo do "opus dei"!

Perante os relatos verídicos que fiz ao longo deste texto, ressoam as palavras do Senhor Jesus, aplicadas agora aos responsáveis da obra: "São como sepulcros caiados de branco!"

Marypt

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