Vale la pena! (com outra letra e, sobretudo, com outra música).- Paulo Andrade
Fecha Friday, 08 June 2007
Tema 040. Después de marcharse


Quero agradecer-te, Aquilina, o teu texto publicado na quarta-feira e no qual me senti retratado de forma absolutamente exacta.  Há nele pistas muito importantes para a tal reconstrução que, pelo menos para mim, vai durar toda a vida embora com diferentes intensidades.
 
A demonização que o opus dei fazia (e deve continuar a fazer) do corpo, dos sentimentos, dos afectos,  bem como a ascética voluntarista e descarnada  a que nos encontrávamos sujeitos, conduzia-nos, inevitavelmente, a uma enorme secura e  a um perfeito deserto afectivo e relacional.
 
Ao ler as tuas palavras veio-me à memória um episódio que, com os olhos que hoje tenho, me parece paradigmático. Em Julho de 1990, estava eu em Madrid (em Tajamar acompanhando uns alunos) nasceu o meu primeiro sobrinho, filho mais velho da minha única irmã. Só o conheci no dia 1 de Setembro quando me desloquei (contra ventos e marés) ao norte do meu país para estar presente no seu baptizado. Foi um momento muito emocionante não só porque sempre gostei muito de crianças mas, sobretudo, por ser o meu primeiro sobrinho.
 
No regresso a Lisboa, falei do assunto na conversa fraterna e, além de ter sido severamente advertido pela minha deslocação rebelde ao baptizado, disseram-me que não devia voltar a ver o meu sobrinho nos próximos tempos para não me apegar e outras tretas do mesmo calibre.(quem atendia a conversa era o vogal de s.miguel). Claro que, quando nasceu o meu segundo sobrinho, em 1993, eu estava ao lado da minha irmã e da minha família e ainda era da obra. Como nesse ano deixei de pertencer à prelatura tudo ficou  normal a partir daí e pude estar presente no nascimento dos outros sobrinhos. Porém, até conseguir manifestar o meu afecto por eles (com os normais beijos e carícias) tive de percorrer um longo caminho. Eu desconhecia as vulgares manifestações de afecto pois desde os 15 anos que tinham deixado de existir para mim. É de uma dureza inaudita querermos ser carinhosos e não sabermos. Querermos ser carinhosos e pensarmos que estamos a fazer concessões à sensualidade. Querermos ser carinhosos e não nos permitirmos sê-lo.
 
Se isto no âmbito familiar se ultrapassa pela compreensão e paciência dos demais, o mesmo pode não acontecer no plano social, profissional, nas relações de amizade. Somos uns bichos raros (fui um bicho raro) que não cumprimentava as mulheres com um beijo, que nas festas  só dançava (e mal!) com as pessoas mais velhas, que não aguentava uma piada mais picante, um tema de conversa mais controverso (homossexualidade, aborto, divórcio). Com os meus 30 anos, corava como uma criança imberbe que vai ao jardim zoológico e, pela primeira vez, vê o macaco e macaca a fazerem macaquinhos...
 
Entretanto, e felizmente, tive a grande sorte de encontrar verdadeiros amigos e amigas de me ir libertando dessas amarras maniqueístas e desumanas. Vale a pena percorrer este caminho de libertação, sem pressas, mas de modo muito determinado. Vale a pena percebermos que somos capazes de afectos. Vale a pena não ter medo de o demonstrar.
 
Peço desculpa de escrever em português mas o meu castelhano vai de mal a pior.
 
Abraços a todos
 
Paulo Andrade








Este artículo proviene de Opuslibros
http://www.opuslibros.org/nuevaweb

La dirección de esta noticia es:
http://www.opuslibros.org/nuevaweb/modules.php?name=News&file=article&sid=10144